Saturday, October 13, 2012

O que Trazer? O Eterno Dilema


Roupa é sempre um dilema quando se está imigrando. O Brasil é um país com um inverno ameno, e provavelemente os casacos de inverno que estamos acostumados a usar lá servirão apenas para o início da primavera em terras geladas. Mas não é sobre isto que quero falar, e sim sobre os tecidos que você deve dar prioridade na hora de comprar roupa no Brasil ou na hora de fazer as malas.

Logo de cara, evite algodão. As peças de algodão vão, obrigatoriamente, encolher na secadora. Eu perdi quase todas as minhas meias e a muitas blusinhas, casaquinhos, e camisetas.
O mesmo serve para lã, a não ser que você SEMPRE se lembre de não colocar na máquina se secar roupa. Eu não lembrei, e perdi um casaco lindo comprado aqui e um terninho que havia trazido do Brasil.

O que fazer então? Opte por tecidos sintéticos ou que não sejam feitos principalmente de algodão. A roupa pode até conter um pouco algodão e talvez até encolha um pouco, mas não de forma que a torne inutilizável.

Eu costumo ter problemas com calças aqui, e pela quantidade de gente que vejo com calças curtas, não sou a única. Lave e seque na secadora sua calça nova antes de mandar fazer a barra (inclusive as jeans), e faça de forma que você possa desfazer a barra futuramente, quando a calça encolher.

Tuesday, October 9, 2012

What are you thankful for?

Post sem acentuacao*
Com o feriado de Thanksgiving aqui no Canada e muita gente agradecendo pelas coisas que consistou, eh impossivel nao parar para refletir um pouco no quanto nossa vida mudou desde que imigramos.
Eu sempre fui uma pessoa muito pratica, e como muitos mortais, trabalho porque preciso e nao porque gosto. Desta forma, procuro fazer o melhor possivel dentro do prazo para o qual sou paga, o que me causava alguns problemas no Brasil. Apesar de ser contratada para trabalhar das 8 da manha as 5 da tarde, sair as 5 em ponto nao era bom para minha carreira. Os chefes (e ate alguns colegas) viam isso como falta de motivacao, portanto, “promocao” era uma palavra fora do meu vocabulario, mas eu nunca me importei porque nunca fui de entrar em politicagem de empresa.
Aqui no Canada eh diferente. Ja passei por 3 empresas diferentes, e toda vez que fico ate mais tarde, alguem passa e me pergunta se tem algo errado. As 5h30 da tarde nao tem mais ninguem no escritorio. Felizmente, meu chefe eh bem flexivel, e se eu precisar sair mais cedo ele nao se importa. Sou grata por isso.
Trabalho, violencia, e transito – nesta ordem – eram meus principais motivos de stress no Brasil. Hoje, sou grata por nao precisar lidar com nenhum deles. Stress no trabalho sempre existe, mas eh um stress saudavel. Violencia? Sim, ela tambem existe, mas em uma escala tao menor que chega a ser ridiculo, assim como o transito; mas eu uso tranasporte publico para ir trabalhar, e isso eh assunto para um outro post.
Outro dia, li uma reportagem que saiu aqui sobre o transito em Sao Paulo: 180 km de congestionamento todos os dias e pessoas levando ate 2 horas para chegar em casa ou no trabalho. Fora o medo de ser assaltado no transito parado. Pobres paulistas, refens duas vezes.
Eu disse BASTA a tudo isso e hoje nao existe dinheiro nenhum no mundo que me faca voltar, pois dinheiro nao vai me tirar do transito e nem me dar seguranca. Hoje eu tenho isso de graca, e de bonus eu ganho qualidade de vida. Esta sim nao tem preco. E voce? Como sua vida mudou desde a imigracao?

Sunday, July 22, 2012

Cultural Access Pass

Ao receber a cidadania, o imigrante recebe também o Cultural Access Pass, que lhe dá direito a mais de 1000 atrações gratuitas em todo o Canadá. É uma forma que o governo encontrou de incentivar as pessoas a conhecerem o país que adotaram.
Nós já usamos o nosso para conhecer a Casa Loma e revisitar a Art Gallery of Ontario (AGO), em Toronto, mas estão incluídos no pacote: ROM, Ontario Science Centre, Black Creek Pionner Village, entre outros.

A entrada gratuita em museus e outros não é apenas para as cidades grandes, Existem atrações em Niagara Falls e Niagara on the Lake, Waterloo, Whitby, e muitas outras.

Para adquirir o Cultural Pass, basta ir ao website, preencher os dados, e anotar um número. Com esse número e dois documentos de identidade, dirija-se a um dos locais de coleta, pegue seu Cultural Pass e divirta-se de graça!

Thursday, July 5, 2012

Capachinho e Piaçava na Zoropa

Em maio, Capachinho e eu realizamos um sonho (meu): fizemos uma viagem a Paris e Barcelona. Desde os meus 15 anos eu sonhava em conhecer Paris e somente agora, na segunda metade dos meus 30, foi que consegui conciliar tudo e tomar uma attitude concreta. Passamos uma semana em cada cidade. Pode até parecer muito, mas foi pouco diante de tantas coisas que acabamos descobrindo por lá.

Em Paris fizemos bastante turismo: conhecemos muitos museus: Louvre, Orsay, Orangerie, Des Egouts, Cluny (museu medieval), fomos ao Arco do Triunfo e Torre Eiffel, passeamos na Champs Elises e as bordas do Sena, cruzamos a Point Neuf, e comemos muito croque monsieur. Paris é uma cidade cara, mas não tanto quanto eu imaginei. Se você se programar bem dá para viajar com um budget razoável. O mais caro (além da estadia) foi o passe de 5 dias para os museus (em torno de 100 euros) e o passe semanal de metrô (30 Euros). Claro que perdi meu passe de metrô no segundo dia e tive que gastar mais 30 Euros para comprar outro. Existe uma alternativa mais barata, que só descobri no final. Se você fizer uma carteirinha que custa 5 Euros, se não me engano, o passe semanal sai por 19 Euros. Por duas semanas você acaba gastando menos de 50 Euros ao invés de 60. Se não perder o passe sai mais barato ainda.

O tempo estava friozinho, ventando muito e chovendo algumas vezes, então acabamos passando bastante tempo dentro dos museus. Mesmo assim, conseguimos conhecer um pouco da cidade, que é absolutamente linda. Paris em si mesma é um monumento a parte.

Pegamos um vôo da Vueling de Paris para Barcelona, pois além de ser 11 horas mais rápido que o trem, ainda saiu mais barato. Em Barcelona me senti em casa. Não sei se foi pelo fato de eu me sentir confortável com o idioma, ou se pela cultura, ou se porque Capachinho tem parentes lá que foram nos buscar no aeroporto e nos receberam de braços abertos. Assim como em Paris, a comida é espetacular, ma sincrivelmente mais barata. Fuja de restautrantes turísticos e procure pelo “menu del dia”. Comemos até estourar (e bebemos vinho) com nada mais que 7 ou 8 Euros. Se o menu del dia custava mais que isso, procurávamos outro restaurante. O menu del dia é basicamente uma refeição completa que inclui: entrada (salada ou sopa), prato principal (massa, carne, etc), sobremesa, e uma bebida, que pode ser café, vinho ou água. Tanto em Paris quanto em Barcelona, toma-se café espresso, então não precisa se decepcionar com aquela água suja de batata que o povo aqui na America do Norte tanto aprecia.

Como a cidade é relativamente pequena, andamos muito em Barcelona. Compramos um passe de 10 viagens de metrô, mas não chegamos a utilizar todas as viagens, já que nosso hotel estava bem localizado, perto da Plaza Catalunya. Em Paris, alugamos um apartamento, o que nos economizou bastante dinheiro.

Barcelona é linda e medieval, exatamente como eu queria. As ruelas estreitas dão um charme muito especial a cidade e fazem dela um cenário maravilhoso. Essas ruelas tem tantas ramificações que ficou impossível conhecer todas. Tivemos muitas surpresas agradáveis pelo caminho: estávamos andando por um caminho estreito que, de repende, se abria em uma praça gigante, ou uma igreja medieval, ou em outra ruela mais linda ainda.
Gostaríamos de ter ido a Girona (mais medieval ainda) e Teruel, mas mal tivemos tempo de conhecer o que planejamos. A melhor coisa que fiz foi comprar um guia com 60 percursos a pé pela cidade. O melhor de tudo é que os percursos eram curtos e com explicações e curiosidades. Fora isso, conhecemos a maioria dos prédios do arquiteto Gaudi. Este era um sonho muito antigo que eu tinha e não tenho palavras para expressar a beleza de tudo. Só vendo mesmo para saber. No último dia de viagem, antes de pegarmos o vôo de Barcelona para Paris, e de lá para Toronto, coloquei meus recibos de compras no correio para receber reembolso dos impostos. Isso é válido para recibos acima de 100 Euros. Retornamos de viagem no dia 27 de maio, e hoje acabei de receber os últimos reembolsos que faltavam. Essas foram as férias da minha vida, que me deixaram com gostinho de quero-mais.

Tuesday, June 26, 2012

Canadense é educadim que só

Acredito que uma das primeiras coisas que as crianças aprendem a dizer por aqui é “I’m sorry” e “please”. Um seriado Americano de TV, How I Met Yor Mother, tem como protagonista uma canadense, Robin, que é vítima de muitas piadas sobre canadenses. Em um dos episódios, ela vai com Marshal (outro protagonista) a um bar em Nova York com tema de Minessota, onde todos tiram barato de canadenses porque eles tem medo de escuro (não sei de onde tiraram isso). Depois de muitas coisas acontecerem, Robin esta homesick, então Marshal resolve levá-la a um bar com tema canadense. Para ter certeza de que aquele realmente era um ambiente canadense, Robin dá um empurrão em um cara que está de costas para ela. O cara se vira, e ao ve-la diz “I’m so sorry. Are you OK? Please, take these donuts”. Marshal, que é Americano, não se conforma, e diz “ Peraí, voce entra no bar, empurra o cara de propósito, ele te pede desculpas e ainda te da um donut?” Robin, mas do que feliz, diz que no Canadá é assim e que ela estava feliz por se sentir em casa. Devo admitir que no início achei estranho isso, mas cada vez que saio do Canadá sinto uma falta danada desse “exagero” de educação.

Monday, June 18, 2012

Onde doar coisas usadas

Há alguns meses houve o escândalo das clothing donation green bins. Grande parte das caixas para drop off de roupas e artigos usados distribuídas por Ontário eram, na verdade, pontos de coleta de mercadorias (roupa em sua maioria) que seriam revendidas na África ao invés de irem para instituições de caridade. Mas como não cair nesse golpe?

Existem várias instituições sérias que precisam de ajuda e recebem desde roupas e aparelhos domésticos, até materiais para pintura e artesanato. O site Toronto Street Fashion cita algumas dessas instituições:

Red Door Shelter: Necessita de lençóis, itens para a casa e roupas - 21 Carlaw Ave, Toronto.

Dress Your Best: Roupas, sapatos, e acessórios. Conheço o trabalho deles. Esta instituição ajuda imigrantes que fazem cursos gratuitos do governo parta recolocação profissional. Ao terminar o curso, você marca um horário com um voluntário que vai orientá-lo a como se vestir para uma entrevista de emprego. Durante a orientação, você vai pegando as roupas sugeridas e pode levar tudo para casa no final, sem custo algum. As doações podem ser feitas às quartas-feiras, entre 10 da manhã e 8 da noite no Walmer Centre, 188 Lowther Ave, 3rd floor, Toronto.

Good Shepherd Centre: Ajuda pessoas de rua. 412 Queen St. East (perto da Queen East x Parliament Streets).

YMCA Womens Shelter: mulheres. Ligue para (416) 693-7978, ext 231.

Sketch: Trabalha com arte para moradores de rua. Aceoita doações de art supplies.  580 King St. West, 2nd floor, Toronto.

Para doar brinquedos, revistas, livros, etc, visite http://www.toronto.ca/reuseit/orgs.htm.

Wednesday, May 9, 2012

Boa noticia para quem quer imigrar

Recentemente, tenho lido vários artigos sobre o problema de falta de mão-de-obra que o Canadá enfrentará a partir de 2021 se até lá não conseguir trazer 1 milhão a mais de imigrantes do que está previsto. Segundo um dos artigos, em 20 anos, grande parte da população começará a se aposentar e não teremos pessoas suficientes para substituí-las, a não ser que as famílias atuais passem a ter muitos filhos. Difícil de acreditar quando se tem uma taxa de aproximadamente 8% de desemprego no país. Atualmente, muitos imigrantes da área de saúde lutam para ter suas credencias reconhecidas, mas muitos acabam dirigindo um táxi ou trabalhando no Tim Hortons, pois o custo total do processo é excessivamente alto e moroso e alguém precisa colocar comida na mesa. Acredito que se realmente o Canadá precisar desesperadamente de profisisonais qualificados grande parte dos obstáculos impostos serão derrubados para facilitar a entrada da mão-de-obra necessária, assim como ocorria há uns quinze anos. Mesmo não falando Inglês direito, muitos imigrantes eram contratados depois da primeira entrevista de emprego em solo canadense. A demanda de profissionais era tamanha que empresários se arriscavam a contratar newcomers sem lhes impôr muitas restrições. Com 8% de desemprego os empresários escolhem a dedo quem eles querem no time deles. O grande desafio para preencher essas vagas em 2021 não estará nos grandes centros urbanos, mas em regiões mais afastadas e conservadoras onde forasteiros nem sempre são recebidos de braços abertos. A integração do imigrante nessas sociedades é mais lenta e dolorosa, mas não impossível. O governo precisará trabalhar bastante para mudar a cultura nesses lugares e fazer com que as pessoas abram suas cabeças e vejam os imigrantes como algo que vem acrescentar, e não tirar.

Saturday, April 7, 2012

Casamento arranjado?

Com alguma sorte este blog chegará a ter doze posts este ano, um para cada mês. Depois de quase 5 anos neste país, parece que acaba o assunto porque muitas das novidades ou das "primeiras vezes" já aconteceram, então nada parece interessante o suficiente para virar um post.

Hoje vou falar de uma experiência que eu nunca poderia ter tido no Brasil, e que é uma das coisas mais legais de um país muticultural.

Fiz amizade com duas irmãs persas no meu primeiro emprego aqui, em 2008. Nos vemos raramente, mas quando nos encontramos eu sempre aprendo coisas novas e chocantes. No caso dessas irmãs, o fato delas serem muçulmanas torna tudo mais interessante. Os pais delas fugiram do Irã com as 3 filhas quando elas tinham menos de 7 anos de idade. Mesmo vivendo no mundo ocidental, a mãe delas fez questão absoluta de criá-las dentro do islamismo. Elas não usam véu porque não gostam (aliás, quem gosta?), e só usavam no Irã porque eram obrigadas. A filha mais velha está com 40 anos e se casou há uns 4 anos com um rapaz que ela trouxe do Irã. Sim, casamento arranjado a pedido dela.

Antes do casamento, ela e as outras 2 irmãs viviam na casa dos pais sob as ordens deles. Não podiam receber amigos homens em casa e nem sair com eles, mesmo em grupo. Maquiagem, só depois do casamento (não precisa nem mencionar sexo, né?). E hoje eu descobri que a mulher não pode mexer na sobrancelha enquanto não se casar. Não é inacreditável? Tudo isso é para a mulher não se tornar sensual e atrair a atenção de outros homens; ela deve se resguardar e ser sensual apenas para o marido dela.

Olhando essas meninas, elas parecem absolutamente "normais" como qualquer menina ocidental, mas nem tudo é o que parece. Essa minha amiga não tem nenhum amigo do sexo masculino, pois não é certo uma mulher casada ficar conversando com outros homens. Nós achamos isso o maior absurdo do mundo, mas para ela é a coisa mais natural. O mais engraçado é ela achar que eu também sou assim; aí quando digo que eu tenho amigos homens, ela pergunta "Mas o Capachinho não acha ruim?" E eu digo que não e que ele tem amigas também. O espanto dela é ainda maior.

Apesar das diferenças, nos damos muito bem e sempre nos divertimos muito quando estamos juntas. O segredo é uma respeitar a cultura da outra. No começo eu achava estranho e ficava indignada com o fato das 3 meninas terem mais de 30 anos, trabalharem e não poderem morar sozinhas ou simplesmente colocar maquiagem para ir a uma festa. Aliás, antes de casar não tem nada de festa até tarde. Eu dizia coisas do tipo "Mas você tem seu trabalho, é independente, seus pais não têm direito de proibir esse tipo de coisa. Se fosse comigo blá, blá,blá". E elas sempre me diziam que as coisas não eram bem assim, que na religião delas elas tinham que obedecer os pais e seguir as regras da comunidade, senão elas não poderiam mais ter contato com os persas e nem com a família. Uau! Nunca mais falei nada.

E aí vem a questão do casamento arranjado, que o pai dela, por incrível que pareça, sempre foi contra. Quando a conheci, ela tinha acabado de se casar na Síria e o marido dela nem tinha feito o landing ainda; estava aqui com visto de turista. Lembro-me que as brigas eram constantes e a impressão que eu tinha é de que ele era um monstro machista sem respeito nenhum por ela. A família dela também não gostava dele e o fato de todos morarem na casa dos pais dela só agravava a situação. A família só falava em divórcio, mas ela não queria dar o braço a torcer e admitir perante a comunidade que o cara que ela foi buscar lá no Irã para se casar não era um par ideal.
Eu tinha muita pena dela, mas depois que eles compraram uma casa e saíram da casa dos pais dela, a coisa mudou.
Fui jantar com Capachinho na casa dela uma vez, e como todo bom persa, a família inteira estava lá: pai, mãe e irmãs.
Eu fui achando que ia encontrar no marido dela um tipo desprezível, mas o que encontrei foi uma pessoa sensível que estava fazendo das tripas coração para se adaptar a um novo país cuja língua ele não falava e se esforçando ao máximo para fazer minha amiga feliz.
Sim, cada um tem seu papel bem definido dentro do casamento, mas vi muito respeito e vontade de vencer. Hoje eles já se mudaram para uma casa maior, ele deixou de ser carpinteiro e arranjou um emprego como contador, que é a profissão que ele tinha antes de imigrar.

Casamentos arranjados ainda são coisa muito comum dentro de algumas culturas aqui no Canadá. Uma vez ouvi a história de um indiano jovem que defendia o casamento arranjado. Ele disse que o casamento não tem nada a ver com os noivos, mas com a família, portanto, duas pessoas só se casam se as famílias se derem bem. O que um sente pelo outro é irrelevante, porque segundo ele, o amor vem depois, e se não vier você aprende a conviver com a pessoa assim mesmo.
Ele é contra casamento por amor porque diz que não dá certo. Quando a paixão acaba não sobra nada, e aí vem o divórcio. Com casamento arranjado não; você já sabe o que esperar desde o começo e vai trabalhar para que o casamento dê certo. O casamento é um negócio, um contrato e todos vão trabalhar para um bem comum.
Esse indiano também disse que não é ele quem escolhe a pessoa com quem quer se casar, é a família dele. Ah, e é claro que a primeira e mais importante condição é de que a moça seja da mesma religião que ele, senão as famílias brigam e o casamento não dá certo. Eu perguntei "Mas e se você se apaixonar por uma moça branca ou de outra religião?" Ele fez uma cara como se eu estivesse falando a coisa mais absurda do mundo, pois é claro que isso nunca iria acontecer porque ele simplesmente não se interessa por moças que não sejam da cultura e da religião dele. E isso me lembra um outro caso de uma ex-colega de trabalho do Paquistão, também muçulmana. Um colega canadense vivia brincando com ela e perguntando para ela qual seria a reação dos pais dela caso ela aparecesse em casa com um canadense ou qualquer outro rapaz que não fosse da cultura e da religião dela. Ela insistia que isso não era possível, mas meu colega achava que não era possível por proibição dos pais delas, mas não. Não era possível porque ela jamais pensou ou pensará em se relacionar com alguém que não seja paquistanês e que não seja muçulmano. Essa menina é nascida no Canadá, mas ela se veste com roupas indianas e vive o mais próximo possível do que seria uma vida no Pasquitão.

É essa diversidade cultural que nos permite esse tipo de experiência imposssível no Brasil, pois lá os imigrantes têm que se adequar aos hábitos brasileiros, mesmo porque lá eles não encontram tudo que precisariam para poder levar uma vida parecida com a que tinham no país de origem.
Aqui existem shoppings onde só se fala chinês; mercados que vendem única e exclusivamente produtos chineses; restaurantes onde o menu é todo em chinês. Se você for sozinho a um restaurante desses tá ferrado, pois não vai conseguir pedir nem um copo com água.

O fato do Canadá respeitar outras culturas nos permite conhecer um pouquinho de cada país do mundo sem sair da cidade. Alguns acham que liberdade cultural e religiosa podem trazer problemas (em alguns casos traz sim) mas acredito que a riqueza que essa mistura nos proporciona é fascinante e não tem preço.

Tuesday, March 6, 2012

A dura arte de retornar à terrinha


Sempre acompanhamos as histórias de quem deixou o Brasil e foi tentar sua vida em outro país, mas raramente vemos registrada em blog, a volta dos que foram.
Segundo esta reportagem, 20% dos brasileiros vivendo nos Estados Unidos e 25% dos brasileiros vivendo no Japão já retornaram ao Brasil de mala e cuia por causa da recessão naqueles paises e do bom desempenho da economia brasileira. No entanto, estas pessoas têm enfrentando dificuldades enormes para se readaptar ao Brasil e a se recolocar no mercado de trabalho. A dificuldade é tamanha que o Itamaraty lançou um "Guia de Retorno ao Brasil", distribuído nas embaixadas.

A mesma reportagem cita relatórios que demonstram que a adaptação do brasileiro no exterior demora em média 6 meses. Acredito que seja pelo fato de sairmos com a mente aberta e prontos a encarar as dificuldades. Porém, o contrário não é verdade. Ao retornar ao Brasil, o brasileiro demora at' 2 anos para se readaptar. Enquanto esta no exterior, ele vive uma utopia e vê seu país de uma forma ilusória. Ao pisar no Brasil, não somente  ele, mas amigos e famílias também mudaram bastante durante o tempo em que ele esteve fora e este choque tem bastante impacto em sua adaptação.

Eu vivi isso na pele quando, em 1989, após viver quatro anos na Bolívia, eu retornei ao Brasil. Apesar de adolescente (retornei ao 14 anos), foi muito difícil me adaptar à forma como as pessoas viviam. Eu não sabia como me comportar diante das coisas mais simples, como cumprimentar uma pessoa, por exemplo. Um beijo no rosto, 2, 3, um aperto de mãos?

Imagine que depois de dez anos vivendo no Canadá, por exemplo, você resolva voltar ao Brasil e tenha que começar do zero outra vez: abrir conta em banco, arranjar um lugar para morar (sem ter um emprego ainda), renovar ou tirar carteira de habilitação, matricular os filhos na escola e arranjar uma faxineira de confiança. Hahaha Desculpem-me, mas eu não podia perder a oportunidade. 100% dos brasileiros que conheço que voltaram ao Brasil se queixam de como está caro conseguir uma faxineira quando eles nunca sequer cogitaram essa possiblidade enquanto estavam no Canadá.

Enfim, a volta pode ser mais dura do que se pensa e a readaptação é com certeza um processo longo e penoso.
Será que depois de passar por tantas dificuldades para se adaptar em outro país vale a pena passar por dificuldades ainda maiores ao retornar ao Brasil (some-se a isso corrupção, violência, trânsito infernal e o famoso "jeitinho brasileiro")?

Sunday, February 19, 2012

Salários no Canadá

O Workópolis publicou uma matéria interessante sobre quanto o canadense está ganhando. A pesquisa traz a média salarial de várias áreas profissional, desde dentistas, a artistas e políticos. É uma boa para quem ainda está no Brasil e não tem idéia de quanto poderia ganhar aqui.

Um fato interessante é que, em geral, os canadenses ganharam mais em 2011 do que em 2011 em todas as províncias do Canadá, exceto em Ontario.


Curious about how much money people are making? Well, Statistics Canada's most recent report on wages in Canada had some good news, indicating that overall Canadians were making about 2.2% more at the end of 2011 than we were in 2010. So how much are Canadians earning?  The average salary in this country is roughly $883 a week or $46,000 a year.
While average weekly earnings rose in every province from November 2010 to November 2011, the largest growth was seen in Newfoundland and Labrador, Saskatchewan, Alberta and New Brunswick. The lowest rate of salary increase was in the province of Ontario.
Average Canadian wages by industry sector
In administration and support services, the average weekly earnings are $734.24 or $38,180 a year. Workers in the retail trade earn roughly $521.41 a week or $27,113 a year.
In the professional, scientific and technical services, workers make $1,229.64 a week or $63,941 a year. (This category includes a broad range of professions, such as management, scientific and technical consulting; accounting, tax preparation, bookkeeping payroll services; and architectural, engineering and related services.)
The average weekly salary in manufacturing is $999.75, or $51,987 a year. Workers in utilities make $1,705.73 a week or $88,697 a year, while natural resource workers such as those in mining, quarrying, and oil and gas extraction earn $1,788.92 a week or $93,023 a year.
A sample of other average Canadian salaries by industry:
  • Health care and social assistance:  $1,016 a week or $53,832 per year.
  • Construction: $1,121a week or an annual salary of $58,282.
  • Public administration: $966 a week or an annual salary of $50,211.
  • Finance and insurance: $861 a week or an annual salary of $44,762.
  • Real estate and rental and leasing:  $768 a week or an annual salary of $39,915.
  • Arts, entertainment and recreation:  $641 a week or $33,342.
  • Accommodation and food services: $518 a week or an annual salary of $26,915.

So who's making well above the average wage? Well, Specialist Physicians top the list of well compensated professionals at a whopping $350,000 a year. Judges are also high earners, bringing in an average of $260,000 annually.
Other high-earning positions:
  • Senior managers of financial, communications, and other businesses - $210,500/year.
  • Senior managers of goods production, utilities, transportation, and construction - $195,000/year.
  • General practitioners and family physicians - $180,000/year.
  • Dentists - $170,000/year
  • Lawyers - $160,000/year

Looking the qualifications needed to land one of the highest paying gigs, the lesson seems to be: if you want to earn the big bucks, stay in school.
And how about our national leaders? The Prime Minister, Stephen Harper makes $315,000 a year. Members of Parliament make $157,000 a year and the Governor General earns $130,000 annually.
For salary information on specific jobs in your region, try using our interactive Salary Calculator tool.  
Source: Statistics Canada Payroll employment, earnings and hours

Tuesday, January 17, 2012

Por que é tão difícil ter vontade de voltar a viver no Brasil?

Adorei o post da Glenda, do Coisa Parecida. Não conhecia o blog dela até então.
Este post consegue enumerar muitas das razões pelas quais Capachinho e Piaçava não têm vontade de voltar a morar no Brasil.
Talvez seja difícil para o pessoal que ainda mora lá entender esses motivos, pois a gente só consegue ter uma visão panorâmica da situação se se afastar dela.
Aqui vai o post na íntegra.

Depois de duas semanas lendo sobre o porquê dos meus companheiros do Brasil com Z  não quererem mais voltar a viver no Brasil, decidi escrever meu texto. Em 2009 já havíamos feito uma ronda sobre “voltar ou não voltar” entre os colaboradores deste blog coletivo de expatriad@s que vivem nos mais diversos cantos do mundo… os tempos eram outros, o pessoal também, mas quem quiser conferir pode clicar aqui. Inclusive eu dei minha opinião sobre a volta e decidir escrever de novo não porque tenha mudado de ideia, mas sim porque ampliei um pouco meu pensamento.

Não vou enumerar aqui a quantidade de problemas, principalmente sociais, ambientais e econômicos que existem no Brasil, uma porque depois dessa série de posts não vale a pena repetir, outra, porque todo mundo está careca de saber que no nosso país falta segurança, falta educação e saúde pública, falta tolerância, falta tanta coisa e sobra outras mais, como desigualdades, exclusões, injustiças.

Não sei quando volto ao Brasil pelo simples fato de que não sei se quero voltar ao Brasil. Gosto muito da vida que levo na Espanha. A principal lição de vida que aprendi nestes 6 anos de Sevilha é que não é pobre o que menos tem, mas o que menos necessita. Aqui aprendi que não preciso de luxos para viver feliz, que com pouco dinheiro no bolso posso me divertir, ter uma vida cultural relativamente agitada e ainda viajar de vez em quando. Aprendi que a felicidade não se encontra em shopping e que autoestima não está diretamente relacionada com chapinha e unhas bem feitas. E não que no Brasil eu tivesse um padrão de vida alto ou fosse uma patricinha de carteirinha, mas depois de viver 6 anos em uma casa com móveis alugados, nossa percepção de vida muda muito.

Futilidades à parte, aqui aprendi que se trabalha para viver e não se vive para trabalhar. Isso significa realmente aproveitar a vida. A grande maioria do pessoal aqui do sul trabalha o justo e necessário para poder garantir um lazer a nível máximo, um happy hour no final do dia, uma escapada no final de semana e umas férias de verão de um mês. Horas extras, 60 horas de trabalho semanais, um final de semana em casa atolado de prazos esgotados? Não que isso não aconteça, mas é coisa rara. Conheço funcionários públicos que pedem redução de salário para poder ficar uma hora a mais com os filhos em casa.

Aprendi a deixar o carro na garagem (leia-se estacionado na rua) e usar o transporte público. Voltei a aprender a andar de bicicleta. De onde eu moro eu chego a qualquer parte da cidade em menos de 40 minutos de pedalada (e Sevilla não é uma cidade pequena, tem quase 800 mil habitantes fora a zona metropolitana). Não tem preço poder ir e vir respirando ar fresco (ok, nem sempre, afinal, estamos numa zona urbana) e de quebra fazer exercícios.
Aprendi a ser tolerante, a respeitar mais as diferenças, a descobrir a diversidade de raças, culturas, estilos de vida e pensamento muito diferentes dos nossos, brasileiros, muitas vezes machistas, egoístas e hipócritas (como também já foi citado nos posts dos meus colegas de Brasil com Z). Aprendi que viver no mesmo edifício que o motorista do caminhão de lixo e comer no mesmo restaurante da faxineira da piscina é uma coisa absolutamente normal. Aprendi a respeitar famílias com dois pais, duas mães e até duas mães e um pai, a não falar mal de uma mulher escabelada na padaria, a não ficar horrorizada com um «modelito» fora do «normal». Aprendi que o normal pode ser qualquer coisa, que cada pessoa é um mundo e que cada um de nós cuida do seu próprio mundo pessoal, sem precisar de aparências ou máscaras. E ao mesmo tempo aprendi que todos devemos cuidar do nosso mundo coletivo, que a força do ser em conjunto é muito importante e que, melhor de tudo, dá resultados.

Aprendi que as diferenças nem sempre geram integração, que podem causar desigualdades por estes lados também. Que imigrante é uma classe de pessoa que tem que correr atrás do prejuízo, que tem que lutar muito para conseguir se estabelecer e que, por questões que fogem as suas capacidades, nem sempre consegue o seu lugar ao sol. Aprendi que o ser humano, não importa a sua nacionalidade, está longe de ser perfeito, e apesar de tanta tolerância e igualdade por um lado, pode ser bastante preconceituoso e injusto por outro.

Então, quem em sã consciência depois de aprender tantas coisas e, acima de tudo, depois de viver tudo isso no seu cotidiano sente vontade de voltar a morar no Brasil? Quem, depois de aprender a cruzar uma rua pela faixa de segurança sem nem precisar olhar para os lados ou se acostumar a voltar para casa a pé às 3 da manhã, desfrutando do cheiro das flores de laranjeira e do silêncio da madrugada sem precisar olhar para trás, pensa um dia em regressar à sua pátria amada? Quem depois de dar risada (ou se irritar, no meu caso) com as crianças de uniforme do colégio jogando bola em plena praça central, de se habituar a pegar a sua bicicleta e fazer um piquenique no parque público ou de ver uma roda de velhinhos e velhinhas tomando cerveja (sem álcool) felizes e cheirosos no mesmo bar que a garotada de 20 anos pode cogitar a hipótese de não viver mais essas coisas, aparentemente tão banais, mas que no Brasil há muito tempo não existe?

Claro, nem tudo são rosas… Não sou casada com espanhol, não tenho meu diploma de arquiteta homologado para assinar projetos na Espanha (se bem que na atual situação econômica, «projetos» é coisa rara por aqui), vivo com um visto de estudante que não me dá direito à nacionalidade, não tenho direito à saúde pública (apenas atendimento de emergência) e pelo menos nos próximos anos não vejo nenhum futuro profissional na minha área (nem eu, nem 20% da população ativa do país, nem a maioria absoluta dos jovens recém-formados). Não tenho filhos espanhóis e em teoria, nada me prende aqui. Mais cedo ou mais tarde (cada vez mais é mais cedo, já que estou no segundo ano do doutorado) vou ter que tomar a fatídica decisão: volto ou não volto ao Brasil? Qualidade de vida ou um bom trabalho (ou um trabalho qualquer)?
Meu consolo é que este mundo é enorme, como já dizia o poeta, «grande demais para nascer e morrer no mesmo lugar». Confesso que não sei se tenho o mesmo ânimo para recomeçar tudo de novo em um país novo, mas quem disse que se eu voltasse ao Brasil eu não teria que recomeçar do zero? E entre recomeçar com qualidade de vida e recomeçar rodeada de violência, desigualdades e injustiças, só fico na dúvida porque neste último caso também estaria rodeada de muito amor, amigos e família (únicos motivos reais que me fazem pensar em voltar a viver no Brasil).

Enfim, todo mundo deveria ter a oportunidade de sair da sua bolha, ver o mundo com outros olhos, aprender novos valores e, quem sabe, voltar e conseguir lutar por um lugar melhor. O Brasil é um país com duas caras, lindo e horrível ao mesmo tempo. Sei que sou uma privilegiada por estar onde estou e que muita gente se tivesse condições já estava com as malas prontas e a passagem comprada para se mandar… e a gente aqui falando em voltar. Adoraria poder voltar e tentar fazer do meu Brasil um lugar melhor para se viver, mas ao mesmo tempo me sinto muito ingênua em pensar que isso poderia ser possível.
Queria viver entre os «meus», mas a cada dia que passa me sinto menos parte dos que ficaram. Já não penso em altos salários, altos cargos, muito dinheiro para ser feliz. Embora muita gente siga pensando ao contrário, dinheiro não é e nem nunca foi garantia de felicidade. Felicidade para mim é isso, poder levar a vida sem pausa, mas sem pressa, sem paradeiro se eu assim quiser. Posso não estar com os bolsos cheios, mas percebi que não necessito nada disso para ter uma vida confortável, alegre e divertida.

Tive que cruzar o oceano para perceber isso? Pode ser que sim, e continuo aproveitando esta grande oportunidade de fazer parte de outro mundo, que apesar de todos os seus problemas, consegue ser mais justo e respeitoso que o mundo onde nasci.