Sunday, November 20, 2011

Curiosidades sobre o Canadá: Movember

Você sabe o que é Movember? Antes de chegar ao Canadá eu também nunca havia ouvido falar sobre esse movimento, ou melhor, campanha, que tem origem na Austrália e se espalhou pelo mundo, inclusive no Rio de Janeiro.

No mês de novembro homens deixam seus bigodes crescer para demonstrar solidariedade e suporte ao combate do câncer de próstata, que é o tipo de câncer mais comuns em homens.

É muito engraçado ver a transformação em jornalistas e outras pessoas  ao longo do mês, que deixam de ter uma cara bem barbeada e passam a exibir bigode e/ou barba.

Alguns viram alvo de apostas em empresas, pois não é todo mundo que tem paciência para esperar até o fim do mês para tirar o bigode. Eles dizem que começa a coçar e incomodar, e acabam desistindo no meio do caminho.

A brincadeira não pára por aí. Além de fazer doações, você também pode enviar sua foto para vários sites e programas de TV para concorrer a prêmios.

Para saber mais sobre o Movember, se envolver, e fazer uma doação, acesse www.ca.movember.com.


Friday, November 18, 2011

Com saudade da faxineira?


Na America do Norte pouquissima gente tem o que chamamos de “ diarista” simplesmente pelo fato de que a mao-de-obra e muito cara. E para falar a verdade, eu nem acho que compensa muito pagar para alguem limpar sua casa aqui.
Primeiro, porque voce paga por hora. As pessoas geralmente contratam um professional por apenas 2 horas, e la se foram nao menos de $50.
Segundo, ao contrario das nossas diaristas brasileiras, praticamente escravas, a “ diarista” daqui nao vai fazer muita coisa nessas 2 horas.  Alguns servicos incluem lavar louca (embora a maioria das casas seja equipada com maquina de lavar louca), mas em geral o trabalho e passar aspirador na casa, tirar a poeira e “ dar um tapa” na organizacao.

Ah, voce quer alguem que lave e passe suas roupas? Tem que pagar extra, tanto para um quanto para outro. Mas voce tambem quer alguem que limpe as janelas da sua casa. Bom, ai a gente ja esta falando de mao-de-obra “especializada”; gente treinada que passa a vida lavando janela. Sim, senhor!  Ja pensou se durante a limpeza da janela no piso superior da sua casa a pessoa se desequilibra e cai? Pois e, esse professional tem que pagar um seguro contra acidentes, por isso a conta da limpeza das suas janelas pode ser bem salgadinha.

E em terceiro lugar, as casas e apartamentos sao projetados para serem limpos a seco e nao a base de agua com se faz no Brasil. As  construcoes sao de madeira, entao nao existe essa de jogar agua no piso da cozinha e do banheiro e depois esfregar com sapolio. Nao, os produtos de limpeza aqui sao poderosos e tem um para cada coisa. Para limpar o chao nos usamos o mop (rodo). Os mais legais vem com um dispositivo onde voce acopla o produto de limpeza, ai e so apertar o spray para liberar o liquido e passar o rodo. Simples assim.

No comeco e estranho. Eu nao conseguia me conformar que nao podia lavar o banheiro; se eu nao jogasse agua eu nao sentia que estava limpo, principalmente quando se tem 2 cachorros em casa. So que essa historia de jogar agua estava danificando os moveis e o piso do banheiro, entao me conformei com o mop. Hoje acho uma maravilha e nao consigo mais me imaginar com o chuveirinho inundando pia, privada e o que mais estiver por ali.

Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas sinto tanta falta de um tanque! Os apartamentos mais antigos costumam ter lavanderia coletiva, assim como o tanque, mas nos predios mais novos, voce tem um minusculo nicho na parede onde a maquina de lavar e a de secar roupa sao empilhadas uma na outra. Nao existe o conceito de “area de servico”  com espaco para um tanque e para pendurar um varal. A gente acaba usando a banheira mesmo, em ultimo caso. Ainda preciso descobrir o que a gente faz com tenis sujo que nao pode ir na maquina de lavar. Aposto como tem um produto especifico para a limpeza de tenis, portanto, se alguem conhecer algum, deixe um comentario aqui no blog.

Tuesday, November 1, 2011

Pobre brasileiro x pobre canadense


Estava cá pensando com meus botões sobre  os pobres brasileiros e como eles se relacionam com as demais classes sociais e vice-versa. Para ilustrar, vou contar um fato que ocorreu comigo no meu primeiro mês aqui no Canadá. Vocês sabem que a gente chega aqui completamente sem noção de nada e, felizmente, sempre aparece alguma alma boa para nos orientar. Pois bem, fomos a um churrasco beneficente do Centro Cultural Brasil-Angola, em agosto de 2007. Chegando lá, não sabíamos exatamente o que fazer ou aonde ir, quando eis que um rapaz muito simpático nos cumprimenta e nos explica o que fazer para pegar comida e bebida. 

Pela aparência e pelo modo de falar, deduzi que aquele rapaz humilde e simpático não tinha muita instrução acadêmica e nem muitas posses materiais. No decorrer da conversa eles nos contou que estava trabalhando na construção aqui em Toronto (e nas entrelinhas nós deduzimos que ele estava aqui ilegalmente). Ele, muito solícito, disse que se quiséssemos, ele poderia arranjar um emprego na construção para Capachinho. Capachinho agradeceu muito educadamente e disse que estava procurando emprego em outra área. O rapaz perguntou então que área essa essa porque para determiados trabalhos é necessário ter "documentação" (ou seja, estar no país legalmente). Capachinho sorriu e respondeu que ele era um web developer e estava procurando um emprego na área de informática.

A expressão no rosto do simpático rapaz mudou repentinamente. Imediatamente, ele pediu licença e saiu para longe,  talvez envergonhado pela proposta que havia feito a pessoas que não era do mesmo "meio" dele. Daquele momento em diante, não conseguimos mais nos aproximar dele porque ele nos evitava veementemente. 

Este acontecimento sempre me faz pensar bastante, e me leva a concluir que talvez o pobre brasileiro conheça "seu lugar" na sociedade. A faxineira, o pedreiro, ou o motorista de ônibus, todos eles respeitam uma barreira invisível existente entre eles e os que tiveram oportunidade de estudar. Eles se colocam (ou são colocados?) em uma posição inferior não só em relação ao seu conhecimento ou a situação financeira, mas também como ser humano. É como se eles não fossem dignos de ter os mesmos direitos que aqueles que têm o que eles nunca tiveram por pura falta de oportunidade. E         quer saber? Às vezes parece que está tudo bem. Mas como assim?

Acredito que essa resignação seja herança dos nossos tempos de 'casa-grande e senzala', em que todos deviam obediência ao senhor (nos só empregados, mas membros familiares também), que tinha, literalmente, a vida de seus escravos nas mãos. Cabia a ele decidir quem iria viver e quem iria morrer. A obediência incondicional, aliada ao trabalho duro e exaustivo sem nunca se queixar, aumentavam as chances de um escravo evitar o tronco e permanecer vivo.

A escravidão foi abolida, mas a mentalidade escravocrata e paternalista não. Os pobres, assim como os antigos escravos, sempre foram vistos como seres inferiors e devedores de obediência e respeito aos seus 'superiores', como no ditado Manda quem sabe, obedece quem tem juízo.

Séculos se passaram e o Brasil mudou muito pouco. A elite, descendente daqueles senhores, carrega consigo a herança cultural dos tempos de colônia, pagando o mínimo possível aos seus empregados, e tratando-os como inferiores. O pobre se acostumou tanto a essa situação, que às vezes temos a impressão de que ele nem percebe esse tratamento.

Aí você vem para o Canadá e conhece um outro conceito de pobreza. Você aprende que não é vergonhoso ter um trabalho braçal. Aliás, o trabalho braçal é, muitas vezes, uma escolha e não uma falta de opção.

Você faz amizades com pessoas que nunca fariam parte do seu círculo social no Brasil. Você conhece um vendedor de loja que fala 3 línguas e viajou o mundo todo; um pintor que mora em uma casa com piscina e jacuzzi e que é 3 vezes maior que seu minúsculo apartamento. Como se não bastasse, esse mesmo pintor diz ter um filho formado em jornalismo, que terminou a faculdade e foi fazer um curso de encanador porque dava mais dinheiro. Sim, seu mundo vira de cabeça para baixo. Quem é quem nessa história?

Passado o espanto, você passa a se sentir bem por viver em uma sociedade menos desigual onde as pessoas têm oportunidades iguais, independentemente de sua cor, religião, ou origem social.
Ao voltar ao Brasil, você fica chateado por ver as pessoas divididas em 'bolhas' , como se fosses castas sociais; mas você fica mais chateado ainda ao ver que esses pobres realmente vivem em um outro mundo diferente do seu e todos acham que isso é assim mesmo e que não há como mudar. 
Entristece ver que que a mentalidade exploratória de nossos colonizadores que chegaram ao Brasil querendo retirar o máximo que aquela terra pudesse fornecer (recursos naturais e humanos) continua até hoje. Os sofridos índios de outrora são os pobres de hoje.